Corre o país acenando
com os milhões da
bazuca,
sonsamente insinuando:
quem não votar no meu
bando
não tem sorte, não
manduca.
Corre o país acenando
com os milhões da
bazuca,
sonsamente insinuando:
quem não votar no meu
bando
não tem sorte, não
manduca.
Quando há tempos fui de férias
à minha aldeia natal
reparei que a tia Rita,
minha vizinha do lado,
andava um pouco esquisita
e com ar acabrunhado,
fora do habitual.
-Que se passa, tia Rita,
que parece adoentada?
- É do tempo, não é nada.
Eu fiquei-me cá na minha,
magicando que talvez
fosse como de outra vez
um problema da galinha:
a pita da tia Rita
enjeitara o seu indez,
tinha ido pôr o ovo
ao poleiro da vizinha.
Mas depois de breve pausa
e em conversa ao pé da orelha,
lá me foi dizendo a causa
que a fazia andar de telha.
Tia Rita tem um mano
que estudou no seminário
e que agora é funcionário
na Câmara Municipal,
e segundo a tia Rita,
tem muita veia prà escrita,
e até assina umas crónicas
no semanário local.
Na rua da tia Rita
mora também um farsola,
“um estupor, salvo o seja”,
que andou com o mano na escola
e que lhe tem muita inveja.
E não é que o meliante
se permitiu a bravata
de dizer que o seu irmão
não tem queda para escritor
mas para plantar batata?
- Tamanho descaramento
pôs-me em tal enervamento
que ando até fora de mim;
mas juro que esse bandalho
vai pagar pelo enxovalho,
porque isto não fica assim.
Tia Rita tem vaidade
com as produções do irmão,
não perde oportunidade
de as dar para apreciação;
e como ela faz de mim
um elevado conceito,
quer saber que opinião
formarei a tal respeito.
Pede-me, pois, que lhe diga,
sim ou não e sem favor,
se o seu mano é escritor,
colocando-me na mão
umas folhas do jornal
com os textos do irmão:
ora veja, faz favor.
Lidas as primeiras linhas,
fiquei logo esclarecido:
o motejo do farsola
fazia todo o sentido.
E eis-me ali encalacrado
entre dizer a verdade
com risco de provocar
à tia Rita um chilique
que a tombasse para o lado,
ou ceder à conveniência
e violentar a consciência
pra responder com agrado.
Intimamente implorei
a Santo Judas Tadeu
que me ajudasse a sair
duma tal entalação
em que a Rita me meteu.
O santo compadeceu-se,
atendeu ao que pedi,
e com sua inspiração
foi assim que respondi:
- diga-me cá, tia Rita,
como chama ao operário
que lhe vem pintar a casa
sempre que acha necessário?
- É pintor, está de ver.
- Pois se quem paredes pinta
se denomina pintor,
quem escreve e lança tinta
no papel é escritor.
Com esta minha resposta
e este meu argumentário,
a minha vizinha Rita
ficou muito bem disposta
e o seu mano continua
a orn(e)ar (n)o semanário.
Miguel
Esteves Cardoso (MEC) é um vivaz e desempoeirado cronista deste jornal e até
autor de livros sobre a língua portuguesa. Estranhei por isso que no texto que
aqui exarou, no dia 13 de Agosto último, tivesse escrito em letra de forma: “Quem
queira descobri-las [as coisas boas de que os portugueses guardam segredo]
tem de fuçar (sic) sozinho”.
O
verbo “fuçar” não existe. Existe, sim, fossar, da família de “fosso”, “fossa”,
que por sua vez provêm do latim fossum, particípio do verbo fodӗre
(cavar, abrir fossos).
Porventura
MEC assimilou erroneamente “fuçar” a fuças. Sendo outro escriba a fazê-lo, até
podíamos pensar ter sido por pudor, para não aludir, nem de perto nem de longe,
ao explícito étimo latino, mas num autor tão despejado e pai até de “O Amor É
Fodido”, tal verecúndia não é crível. Se calhar foi por ter escrito num dia 13,
sexta-feira. Mas não se amofine, no melhor pano cai a nódoa.
* Carta enviada ao jornal "Público" em Agosto de 2021 e não publicada.
O Messi deixou o Barça
a chorar como um
menino,
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a rir gozão e ladino,
assim demonstrando
como
se dança o tango argentino.
Da terra onde nascemos, demos os primeiros passos, crescemos e brincámos com as outras crianças, jamais nos esquecemos, guar...