Miguel
Esteves Cardoso (MEC) é um vivaz e desempoeirado cronista deste jornal e até
autor de livros sobre a língua portuguesa. Estranhei por isso que no texto que
aqui exarou, no dia 13 de Agosto último, tivesse escrito em letra de forma: “Quem
queira descobri-las [as coisas boas de que os portugueses guardam segredo]
tem de fuçar (sic) sozinho”.
O
verbo “fuçar” não existe. Existe, sim, fossar, da família de “fosso”, “fossa”,
que por sua vez provêm do latim fossum, particípio do verbo fodӗre
(cavar, abrir fossos).
Porventura
MEC assimilou erroneamente “fuçar” a fuças. Sendo outro escriba a fazê-lo, até
podíamos pensar ter sido por pudor, para não aludir, nem de perto nem de longe,
ao explícito étimo latino, mas num autor tão despejado e pai até de “O Amor É
Fodido”, tal verecúndia não é crível. Se calhar foi por ter escrito num dia 13,
sexta-feira. Mas não se amofine, no melhor pano cai a nódoa.
* Carta enviada ao jornal "Público" em Agosto de 2021 e não publicada.
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