segunda-feira, 8 de maio de 2023

Arcades Ambo


 

Rapazola petulante

e tão levado da breca

que pô-lo a governante

não lembraria ao careca.

 

Lembrou, contudo, ao Monhé,

performer em lembraduras,

que recrutou o Galamba

e o pôs nas Infra-Estruturas.

 

O afilhado e o padrinho

são uma bela parelha;

só os distingue o brinquinho

que um deles usa na orelha.

 

 

                                                         

 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

UI, QUE PIVETE!


 

O Partido Socialista

é uma cesta de maçãs,

e como está bem à vista

são mais as podres que as sãs.

 

Na União Europeia

há um país que cheira mal;

já se diz à boca cheia

que o país é Portugal.

 

Se a causa desta desdita

é o dito socialismo,

então deite-se à sanita

e puxe-se o autoclismo.

 

 

                                                      

 

domingo, 22 de janeiro de 2023

EPIDEMIA SÚCIA

 

 

Com a doença de Alzheimer

tem semelhança e contraste:

amnésias, mas selectivas,

lembranças, mas quanto baste.

 

É nos membros do Governo

que a doença predomina,

desde o Pedro Nuno Santos

ao Cravinho e ao Medina.

 

Mas o nosso Zé Povinho

já não está a gostar da história

e possui medicamento

pra espevitar a memória.

 

 

 

 

 

sábado, 31 de dezembro de 2022

QUEM É A “VELHA”?



Vou apresentar-lhes, num breve flash, um livro recentemente publicado, de que sou autor, que tem por título SERRAR A VELHA, e por sub-título Por Detrás dos Montes.

Os trasmontanos, na sua maioria, sabem o significado da expressão “serrar a velha”, porque é o nome duma tradição carnavalesca das suas terras; mas para quem não é nordestino, o sentido da expressão não é óbvio e carece de esclarecimento.

Trás-os-Montes, como diz o nome, é uma região montanhosa, formada por cabeços, colinas, outeiros; e os seus habitantes vêem essas elevações sob duas vertentes principais: uma a que chamam soalheiro; outra, a oposta, que designam por avessedo. Soalheiro é a vertente voltada a sul, mais exposta ao sol, com temperaturas mais propícias às culturas e às árvores de fruto; o avessedo, que algumas terras alteram para avesseiro, é o lado contrário, voltado a norte, mais frio e húmido e onde a neve e a geada levam mais tempo a derreter.

Parece que a orografia moldou o carácter, a maneira de ser dos trasmontanos, cuja idiossincrasia reflecte essa realidade bifronte. A trasmontanidade tem assim o seu lado solar e o seu lado sombrio. Do primeiro fala-se constantemente, quando se identifica Trás-os-Montes com o “Reino Maravilhoso”, quando se proclama que para lá do Marão mandam os que lá estão, quando se pinta o retrato robot do transmontano:  rijo e firme como as rochas que o viram nascer, com fibra moral que pode quebrar mas não verga. Isto no que respeita ao lado soalheiro da sua psique. Mas há o outro lado, o avessedo, da inveja, da maledicência, do interesseirismo, da mesquinhez, da doblez, da fanfarronice. Disso não se fala nem lhe fazem referência os transmontanófilos, nem os etnólogos quando abordam a trasmontanidade. Só em certas ocasiões, como no Carnaval, é possível soltar a língua e escalpelizar os podres, as vilezas, as chico-espertices. É para isso que serve a tradição de “Serrar A Velha”. Numa noite combinada, um grupo de malta sobe ao ponto mais elevado da povoação e aí, em altas vozes e usando um embude como altifalante, faz um relato do que ao longo do no aconteceu na aldeia, do que deu nas vistas, mais picante ou mais vergonhoso, e tudo isso é recitado em linguagem desbragada e em versos chocarreiros, com menção dos nomes dos protagonistas visados. Tudo é proclamado aos quatro ventos.

É isso que se chama “serrar a velha”. A “velha” representa essas malignidades, essas escabrosidades. É uma bruxa repulsiva, uma entidade maléfica que apetece esconjurar, serrar e cortar aos pedaços, tal como apetetece fazer a certas encarnações demoníacas, como Putin, por exemplo.

Dando continuidade a essa tradição, e à boleia da mesma, é que escrevi este livro, para “serrar” certos caramonicos, que usam o nome de trasmontanos mas para desonra dos mesmos. Se quiserem saber quem são, leiam o livro.   

 

Ligação; Editora Poesia Impossível

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O Juiz Que Não É Gajo


    I

“Gajo” é um termo muito usado

no falar coloquial,

quer dizer tipo, fulano,

e ninguém o leva a mal.

 

Mas um juiz bragançano

diz que o vocábulo é porno,

porque lá na sua zona

é sinónimo de corno.

 

E a uma colega juíza

que a seu respeito o usou

ganhou-lhe tal ojeriza,

que nunca lhe perdoou.

 

Foi aí que teve início

a guerra longa e cruenta

entre o juiz comichoso

e a magistrada minhota

que é das de pêlo na venta.

 

Guerra que até já subiu

ao Supremo Tribunal

para lhe pôr um final

e onde se fez a barrela

de um monte de roupa suja,

tanto dele como dela.

 

Mas eu iria jurar

que ainda não é desta

que a rixa vai terminar.

 II

Em nenhum vocabulário.

geral ou da região,

se regista o termo “gajo”

com sentido de cabrão.

 

É, pois, de supor que apenas

na aldeia de Parada,

terra natal do juiz,

tal palavra seja usada

com semelhante cariz.

 

Mas ninguém é obrigado

a saber o dialecto

das berças do magistrado.

 

Todavia é dele o mérito

de ter chamado a atenção

para o que há de mais típico

no seu amado torrão.

 

E se Podence é famosa

por ser terra dos Caretos

na altura dos Entrudos,

por obra do Meritíssimo

Parada é terra dos “gajos”,

como quem diz, e salvo seja,

o alfobre dos cornudos.

 

Vai ser aldeia folclórica

e com atractivos únicos

que vão dar muito nas vistas

e que vão constituir

chamariz para os turistas.

 

Parada não vai parar

e por terras de Bragança

vai ser a aldeia mais guapa,

e jamais esquecerá

o juiz que a pôs no mapa.

 

     III

Com esta guerra bufona

entre o juiz Alecrim

e a juíza Manjerona,

ficamos elucidados

de como a nossa Justiça

se entretém consigo mesma

e, mais lenta do que a lesma,

não tem tempo para julgar

os Sócrates, os Salgados,

e outros abotoados

com nossas magras poupanças,

que passeiam, regalados,

por Franças e Araganças.

 

Termino com chave de oiro,

transcrevendo do jornal (*)

o que um dos litigantes

diz do outro, tal e qual:

 

Passou por mim, encostou

a [sua] cabeça à minha

e disse-me: vou-te foder”.

Faça o leitor comentários,

porque eu não os sei fazer.

 

(*) cf. “Público” de 20 de Fevereiro de 2022. Quem quiser conhecer esta guerra com mais pormenor pode consultar as reportagens do mesmo jornal dos dias 22 de Fevereiro, 1 e 31 de Março, e 5 de Abril de 2022.

 

 

 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

A culpa e o perdão (*)


No PÚBLICO de 5 do corrente, consta um artigo de Elísio Macamo, “Professor de sociologia e Estudos Africanos na Universidade de Basileia”, em que o autor louva o pedido de desculpa de António Costa pelo massacre de Wiriamu, cometido em Moçambique pelas tropas portuguesas. Mas embora reconheça a nobreza do gesto do Primeiro-Ministro português, por outro lado declara sentir raiva porque se trata de “simples palavras que não custam nada para se pronunciar”.

Na mesma edição do jornal vem a carta de um militar português do tempo da guerra colonial, onde se afirma: “Nunca Portugal exigiu desculpas dos movimentos de libertação pelos massacres bárbaros de mulheres e crianças no início dos anos 60. Se é para quebrar pactos de silêncio que seja para todos”.

Concedo que os crimes dos opressores sobre os oprimidos sejam de maior gravidade que os de sentido inverso. Todavia estes não deixam de ser crimes, não deixam de fazer parte da História (e da Sociologia), e não devem ser varridos para debaixo do tapete. Não seria menos cristão que o Sr. Professor se lembrasse de pedir desculpa por eles, tanto mais que, como refere, as palavras não custam nada a pronunciar.


(*) Carta enviada ao “Público” e não publicada

                                                                                              

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Avante, artistas, avante

 

Faz-me sempre muita espécie,

acho mesmo repugnante

saber que certos artistas

se digam não comunistas

e vão à festa do Avante.

 

Pois se não são comunistas

actuam lá com que fim?

É apara apaparicarem

os amigos de Putin?

 

Eu não quero ser de intrigas,

mas tenho cá para mim

que não vão lá por amor

ou se é por amor que vão,

é por amor ao pilim.

 

O PC, como proclama,

é o partido dos pobres,

mas para comprar artistas

sempre se arranjam uns cobres.

 

De resto, como é, evidente,

só sendo rico se pode

ajudar quem é indigente.

 

Os artistas sabem disso,

eles são uns sabidões;

se exigem ricos cachês,

é com boas intenções.

 

E a Quinta da Atalaia

é o teste de algodão

para conhecer a laia

dos artistas que lá vão.

 

 


segunda-feira, 25 de julho de 2022

Patriarca Cirilo


Sempre houve ao longo dos anos

tiranos e carniceiros

que tiveram ao serviço

sevandijas avençados

pra lhes lamber os traseiros.

 

O lambedor de Putin,

o sevandija Cirilo, 

na história vai deixar marca,

não só por ser patriarca,

mas por lamber com estilo.

 

Até se atreve a escarrar,

sem pudor e sem rebuço,

que Putin é uma oferenda

que Deus fez ao povo russo.

 

Diz-se sacrilegamente

de Jesus Cristo sequaz,

mas o evangelho que prega

é escrito por Satanás.

 

Senhor, de que estás à espera

perante esse porco imundo?

Porque não mandas um raio

que o rache do cimo ao fundo?

 

 

 

Tchizé


Tchizé, filha do sultão

e com o pai moribundo,

vai para a televisão

como uma fera raivosa

a ameaçar meio mundo.

 

Mas a forma como grita

não dá para perceber

o que a torna mais aflita,

onde lhe está a doer.

 

Olhando bem para ela,

não há dúvida que sofre;

É dor de perder o pai?

Temor de perder o cofre?

 

E saber, preto no branco,

 a verdadeira razão,

mete pai e mete banco,

é um problema filosófico,

de difícil solução.

 

 

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Quem Mais Ordena

  

Este povo é masoquista,

gosta que o façam sofrer,

e o partido socialista

é isso que anda a fazer.

 

E quanto mais o partido

o envilece e desfruta,

mais o povo lhe agradece

com maioria absoluta.

 

 


terça-feira, 21 de junho de 2022

Beijinhos


Os beijos do Presidente

começaram pelas faces

e em sentido descendente

já chegaram às barrigas.

Qual será o próximo passo?

Dizê-lo causa embaraço

e eu também não sou de intrigas.

 

 

 

 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Putin e António Costa


Putin afirma: na Ucrânia

não há guerra, mas apenas

uma acção especial;

 

Costa diz: na Lusitânia

com o governo socialista

acabou a austeridade.

 

São dois lider’s bem diferentes,

mas num ponto convergentes:

no seu amor à verdade.

 

 


quarta-feira, 27 de abril de 2022

O 25 de Abril e as suas Vítimas *


Sobre o 25 de Abril, afirma Carmo Afonso, na sua crónica do mesmo dia, neste jornal, que “sempre houve quem dele se sentisse vítima por ter sido despojado de património ou do poder”.

Esqueceu-se a colunista (…) de mencionar aqueles, talvez o grupo mais numeroso, que, logo a seguir ao 25 de Abril e mesmo sem serem privados “de património ou de poder”, até porque os não possuíam, estiveram na iminência de serem espoliados do mais valioso de todos os patrimónios: de si próprios, dos seus ideais de liberdade, dos seus valores, da sua concepção de modo de viver.

Os que tentaram voltar a fazer de nós os adultos-crianças que fomos durante o salazarismo, são os mesmos que agora, aberta ou sonsamente, não se envergonham do seu putinofilismo.

 

* Publicado no “Público” em 26-04-2022

 

                                                                                              

 

 

Flávio Henrique Vara

Rua Leopoldo de Almeida, 13-7 A

1750-137 Lisboa

965558202

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Passarinhos e Flores Silvestres


Campesino irredutível, nado e criado em berças transmontanas, mas por força da minha sina a residir em Lisboa, não sou capaz de passar longos períodos na capital sem ir desintoxicar-me dos miasmas citadinos aos ares da terra onde nasci. Confesso que ultimamente cada vez que lá fui voltei mais desencantado. Aquilo já não é o que era. As coisas que mais me prendiam, que me eram mais familiares, como os passarinhos e as flores silvestres, estão em vias de extinção. As andorinhas já são em número reduzido; os chascos, as carriças e os trigueirões já são difíceis de avistar e já não nos deleitam com os seus trinados; o rosmaninho, a cheirosinha (vulgo tomilho), o alecrim, tão abundantes, no tempo da minha infância, são hoje raridades.

Estava eu melancolicamente a interrogar-me sobre qual poderia ser a causa de tais fenómenos: pesticidas, alterações climáticas? E eis que o choque foi tremendo: a causa tenho sido eu próprio. Tal revelação chegou-me via Carmo Afonso, a colunista da última página do jornal PÚBLICO:

por cada vez que alguém compara o BE e o PCP à extrema-direita morre um passarinho silvestre, seca uma flor campestre. Ao ritmo a que vamos não sobrarão nenhuns nem nenhumas (Público de 8-4-22).

Desgraçadamente, eu tenho feito muitas vezes essas comparações. Para meu eterno remorso. Eu pecador me confesso. Jamais voltarei à minha aldeia para não me deparar com os estragos que lá provoquei. Mea culpa, mea culpa, mea culpa.  

 

                                                                                              

 

 

 

                                                                                              

 

 

 

terça-feira, 5 de abril de 2022

À Zezinha e aos Meotes

 

Generosa e sempre atenta

às carências dos velhotes,

Maria José Madruga

tricotou com muito apuro

uns excelentes meotes,

muito quentes e macios

para eu não sofrer mais

o tormento dos pés frios

pelas noites invernais.

 

Mais ninguém da minha idade

entre nobres e plebeus
se poderá orgulhar

de uns meotes como os meus.

 

Meotes de tanta estima

não se vendem nos mercados
e a sua matéria-prima

é de fios de altruísmo

e amizade entrelaçados.

 

Não sei como agradecer

à Zezinha por me ter

distinguido com tal prenda;

e só para não ficar

com os pés muito quentinhos

mas com as mãos a abanar,

tricotei estes versinhos

que lhos vou endereçar

com gratidão e beijinhos.

 

 

 

                                                          

Arcades Ambo

  Rapazola petulante e tão levado da breca que pô-lo a governante não lembraria ao careca.   Lembrou, contudo, ao Monhé, per...