sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O Juiz Que Não É Gajo


    I

“Gajo” é um termo muito usado

no falar coloquial,

quer dizer tipo, fulano,

e ninguém o leva a mal.

 

Mas um juiz bragançano

diz que o vocábulo é porno,

porque lá na sua zona

é sinónimo de corno.

 

E a uma colega juíza

que a seu respeito o usou

ganhou-lhe tal ojeriza,

que nunca lhe perdoou.

 

Foi aí que teve início

a guerra longa e cruenta

entre o juiz comichoso

e a magistrada minhota

que é das de pêlo na venta.

 

Guerra que até já subiu

ao Supremo Tribunal

para lhe pôr um final

e onde se fez a barrela

de um monte de roupa suja,

tanto dele como dela.

 

Mas eu iria jurar

que ainda não é desta

que a rixa vai terminar.

 II

Em nenhum vocabulário.

geral ou da região,

se regista o termo “gajo”

com sentido de cabrão.

 

É, pois, de supor que apenas

na aldeia de Parada,

terra natal do juiz,

tal palavra seja usada

com semelhante cariz.

 

Mas ninguém é obrigado

a saber o dialecto

das berças do magistrado.

 

Todavia é dele o mérito

de ter chamado a atenção

para o que há de mais típico

no seu amado torrão.

 

E se Podence é famosa

por ser terra dos Caretos

na altura dos Entrudos,

por obra do Meritíssimo

Parada é terra dos “gajos”,

como quem diz, e salvo seja,

o alfobre dos cornudos.

 

Vai ser aldeia folclórica

e com atractivos únicos

que vão dar muito nas vistas

e que vão constituir

chamariz para os turistas.

 

Parada não vai parar

e por terras de Bragança

vai ser a aldeia mais guapa,

e jamais esquecerá

o juiz que a pôs no mapa.

 

     III

Com esta guerra bufona

entre o juiz Alecrim

e a juíza Manjerona,

ficamos elucidados

de como a nossa Justiça

se entretém consigo mesma

e, mais lenta do que a lesma,

não tem tempo para julgar

os Sócrates, os Salgados,

e outros abotoados

com nossas magras poupanças,

que passeiam, regalados,

por Franças e Araganças.

 

Termino com chave de oiro,

transcrevendo do jornal (*)

o que um dos litigantes

diz do outro, tal e qual:

 

Passou por mim, encostou

a [sua] cabeça à minha

e disse-me: vou-te foder”.

Faça o leitor comentários,

porque eu não os sei fazer.

 

(*) cf. “Público” de 20 de Fevereiro de 2022. Quem quiser conhecer esta guerra com mais pormenor pode consultar as reportagens do mesmo jornal dos dias 22 de Fevereiro, 1 e 31 de Março, e 5 de Abril de 2022.

 

 

 

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