sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Bom Ano Novo *


 

Tu que és Cirurgião

e foste cirurgiado

vais entrar no Ano Novo

de coração restaurado;

 

coração que é a capela

de Deus que reside em nós;

mesmo quando está em obras

Deus nunca se afasta dela

Deus nunca nos deixa sós.

 

 

Com um abraço

Flávio Vara

31 de Dezembro de 2021

 

 

 

                                                          

*Para o meu amigo, António Cirurgião, que acaba de ser sujeito a uma melindrosa intervenção cirúrgica.

 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Maioria Absoluta!


 

Grão-mestre de nepotismo,

especialista em trapaça,

seis anos a endrominar-nos,

a mostrar a sua raça;

 

e inda se atreve a pedir

a maioria absoluta!

Não pretenderá mais nada?

Que tal darmos-lhe um manguito

ou então uma banhada?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Natal para Sempre *


 

O Natal para os mais novos

é um tempo de magia,

de sonhos e de esperanças;

o Natal para os mais velhos

é a revisitação

do seu tempo de crianças.

 

Para Deus que em simultâneo

é menino e ancião

Natal é prenda de pai,

que para nós preparou

desde o alvor da criação;

 

É uma Natividade

sem ter descontinuidade

entre infância e senectude;

é uma festividade

para toda a eternidade,

é o amor em plenitude.

 

 

*Para o amigo de sempre, /António Cirurgião,/ com quem estou em comunhão,/ não obstante ele morar/ em terras do Tio Sam/ do outro lado do mar.

 

 

 

                                                          

 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Asno que Me Leve

 

     

Muitos ainda se lembram

daquele cómico evento

quando o Costa, numa boa,

veio de Loures a Lisboa

montado sobre um jumento.

 

Mas o que nem todos sabem

e que é útil recordar

é que, antes de vir de burro,

quis servir-se de um cavalo

que não se deixou montar.

 

Pra cavalgar animais

Usa de todos os meios,

mas só monta aquelas bestas

Que deixam pôr os arreios.



In: Flávio Vara, A Nata do Povo, Ed. Chiado, 2018

O Pinho e o Pinhal

 

       

O problema não é o Pinho,

não é aí que está o mal;

ele é apenas uma árvore,

o problema é o pinheiral.

 

O problema é o socialismo

essa doença mortal,

gangrena de nepotismo

que infeccionou Portugal,

 

a doença mais malina

para a qual não há vacina

porque é uma lepra moral.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Pontapés Gramaticais, Pandémicos e Colaterais


            A variante mais recente do coronavírus, baptizada ómicron, ademais de agravar a pandemia, está a ser muito infecciosa, linguisticamente falando. Como é sabido, ómicron é o nome da vogal “o” do alfabeto grego, e significa “pequeno”(mícron). A mesma vogal tem ainda outro nome, ómega, ou seja, “grande”(mega). Estes qualificativos não têm aqui o mesmo significado que vulgarmente lhes damos de “minúsculo” e “maiúsculo”. Mais adequado seria dizermos “o” breve e “o” longo. A língua grega antiga era mais musical do que as línguas modernas e, tal como na música há notas com tempos diferentes de duração, o mesmo acontecia, na pátria de Homero, com a pronúncia das vogais. A vogal “o”, conforme os casos, podia ter um tempo curto de pronúncia ou ter uma duração sensivelmente o dobro da primeira; nesse caso era representada graficamente por dois ómicrons acoplados (ω).

            Tanto ómicron como ómega são palavras esdrúxulas, com acento tónico e gráfico na primeira sílaba da esquerda.  É nessa sílaba que se deve carregar foneticamente e não na última. E assim como não dizemos “omegá”, também é erróneo dizer “omicrôn”. Mas a literacia dos comunicadores da nossa praça, com particular realce para os da televisão e da rádio, anda muito por baixo, é muito “micrónica”. Com o maior desplante agridem-nos constantemente os ouvidos com “omicrôns” e outras necedades que a falta de espaço me impede de elencar. Nem mesmo quando nos ecrâs das televisões a palavra aparece correctamente escrita, com acento gráfico na sílaba tónica, eles evitam a calinada.

            De tantos tratos de polé que recebe de locutores, pivôs, comentadores, especialistas, virologistas e até, amiúde, das autoridades de saúde, a língua portuguesa já deu entrada nos cuidados intensivos. Foi difícil engendrar a vacina contra o vírus. Mais árduo será descobrir o antídoto eficaz contra o morbo asnal que atinge aqueles sandeus! Mas eu ainda não perdi a esperança; haja Deus.  

 

 


sábado, 4 de dezembro de 2021

CARTA OVELHAL


“Se tudo continua igual, se os nossos dias

são pautados pelo ‘sempre se fez assim’,

então o dom desaparece, sufocado pelas

cinzas dos medos e pela preocupação de

defender o statu quo”.

(Papa Francisco).

 

“Os cristãos são todos iguais, o ser bispo

ou cardeal não nos torna superiores a

ninguém”.

(Cardeal Cristóbal López).

 

Veio o Papa Francisco e desconstruiu esse

mundo convencional e, daí o grito: ai que ele

 está a dar cabo da Igreja na sua vida interna

 e na sua relação com o mundo. É verdade! O

 vinho novo da sua intervenção, pelo exemplo

 e pela palavra, rebenta com os odres velhos

 do conformismo.”

(Frei Bento Domingues).

 

“Uma Igreja que, aprisionada por um

sistema clerical, corre o risco de se tornar

cada vez mais um museu de antiguidades”.

(P. Anselmo Borges).

 

“A primeira condição dos católicos, para

realizarem a sua missão na linha do Papa

Francisco, é a reforma da Igreja, do topo

até à base.”

(Frei Bento Domingues).



Há uma coisa que na Igreja

me entristece e não encaixo:

que a informação se processe

só de cima para baixo.

 

E se há cartas pastorais

do pastor para as ovelhas,

eu atrevo-me a propor

que haja cartas ovelhais

das ovelhas prò pastor.

 

E para dar o exemplo

e viver a minha fé,

aqui vai uma ovelhal

para o bispo D. José.

 

v

 

Serrar a clerocracia

não é nenhuma heresia

nem pecado venial,

é até mesmo um dever,

segundo o papa actual,

 

um papa que é muito amado

e que possui tantos dons!

Peço a Deus que lhe dê vida

por muitos anos e bons,

 

pois tenho grande receio

de que o “Grande Inquisidor”

não suporte que ele imite

a Jesus Nosso Senhor.

 

Já anda a fazer-lhe o cerco,

já anda a mostrar-lhe as garras,

à espera do momento

de lhe lançar as amarras.

 

É pois no Papa Francisco

que me sinto respaldado

para correr este risco

de vir a serrar a velha

também ao nosso prelado.

 

É um caso melindroso

e que deve ser tratado

com reverência e unção

para não ser cominado

com alguma excomunhão.

 

v

 

O bispo José Cordeiro

é um jovem prazenteiro,

bem falante e despachado;

de todos os atributos

requeridos a um prelado

falta-lhe apenas o cheiro.

 

Segundo o Papa Francisco,

o pastor deve cheirar

às ovelhas que apascenta;

e a que cheira D. José?

A rituais, liturgias,

devoções e água benta.

 

Já ouvi dizer por vezes

que até é um bispo bonito

e que é mal empregado

em terra de montanheses.

 

Quanto a ser mal empregado,

eu também estou de acordo,

mas é noutra perspectiva:

porque sou membro da Igreja,

quero-a rejuvenescida;

mas quanto a isso este bispo,

e com todo o meu respeito,

é um atraso de vida.

 

A sua designação

para bispo de Bragança

inundou-me de alegria,

encheu-me a alma de esperança.

 

Um bispo com tal perfil

estava mesmo talhado

pra remoçar o redil

que lhe fora confiado,

para alterar uma prática

convencional, rotineira

e fazer com que se veja

outra maneira de ser

cristão e de ser Igreja.

 

Mas já passaram dez anos,

sucedem-se os desenganos

e lembram-me os Evangelhos

naquele passo em que se lê

"vinho novo em odres velhos".


Pode ser bom velocista

e de alta cilindrada,

só que corre numa pista

quanto a mim pouco acertada.

 

v

 

Na Igreja, povo de Deus,

todos nós somos iguais,

não devem existir castas,

prepotências clericais,

nem haver donos de tudo,

só uns poucos a falar

e o resto que fica mudo.

 

O poder não possui sexo,

por isso não deve ser

monopólio masculino,

a mulher é, como o homem,

um reflexo do divino,

 

e na relação com Deus

é ela que sobressai:

a mulher é mãe de Cristo,

mas o homem não é pai.

 

Porém como estas matérias

são demasiado sérias

para serem abordadas

de tão ligeira feição,

tratá-las-ei, Deus o queria,

em outra oportunidade,

com maior profundidade

e noutro diapasão.

 

Mas antes de terminar,

ainda quero serrar

uma obnóxia latinada

que muito me estarreceu

quando um dia a vi estampada

num livro do senhor bispo,*

entre os vários que escreveu.

 

  v

 

Em latim há uma expressão

muito usada para dizer

“ponto da situação”;

trata-se de status quaestionis

que o senhor bispo empregou,

alterando-lhe o final

para “status quaestiones”,

e com isso cometendo

um pecado muito grave

a nível gramatical.

 

Do latim já terminou

há muito tempo a vigência,

mas é língua de cultura

e é da sua descendência,

do seu cunho de nobreza

que se orgulha a “flor do Lácio”

sua filha portuguesa.

 

Não podemos profanar

os seus despojos mortais,

é nosso dever sagrado

preservá-los, cultuá-los

como relíquias dos pais.


Post Scriptum 

D. José, eu sempre fui

um tanto desabusado,

mas sou bem intencionado,

tenho por si muito apreço

e, pode ter a certeza,

não sou ruim como pareço.

 

Acautele-se, isso sim,

contra as reses do rebanho

que usam falinhas de mel,

que de ovelhas têm pele,

mas na realidade são

lobos de todo o tamanho. 


* Cf. José Manuel Cordeiro, O Padre, 2009. pp. 29 e 31 



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In: Flávio Vara, Serrar A Velha  - Por Detrás dos Montes. (Para publicação).  






quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

MINISTRA POR ENGANO

     Ficámos muito sensibilizados e honrados por Francisca Van Dunem, eminente ministra e iminente ex-ministra, nos ter feito confidentes dos seus estados de alma a respeito dos anos passados como Governanta* do departamento da Justiça, durante este último sexénio. Confessou-nos Sua Excelência, no jornal “Público” de 19 de Novembro último, que mesmo que o PS ganhe as próximas eleições legislativas e António Costa permaneça como Primeiro-Ministro, ela deixará o lugar, porque, acrescenta: “Eu já estava neste Governo [apenas] até final da Presidência portuguesa da União Europeia, era a combinação que tínhamos. Porque era suposto que houvesse uma remodelação a seguir a isso”. Acrescentou ainda estes tocantes e edificantes desabafos: “Acho que sou neste momento a pessoa que mais tempo esteve na pasta da Justiça. É o mais longo mandato de um ministro desde o 25 de Abril. Temos de dar lugar a outras pessoas. E depois o meu lugar não é aqui, a minha profissão não é esta. Acho que tenho de ir para o meu lugar(sublinhado meu). À pergunta do jornalista sobre qual o seu plano seguinte, respondeu, sorrindo: “Os meus netos”.

Embora o ser membro do Governo não seja considerado como profissão, façamos de conta que sim, porque isso em nada diminui o desprendimento da ministra pelas honrarias e benesses do cargo e a sua generosidade em “dar o lugar a outras pessoas”. A esse desapego por tais mundanidades chamam as bem-aventuranças evangélicas “pobreza de espírito”, e também se designa por “pobreza franciscana”, por ter sido um frade de nome Francisco um dos seus mais altos expoentes. E eu tenho para mim, cá no meu íntimo, que não é mero acaso o facto da ministra também se chamar Francisca.

Por tudo isto me custa a crer que haja gente capaz de malsinar os sentimentos cristãos da virtuosa senhora, insinuando coisas como estas, que eu já ouvi: como boa entendedora que é, Francisca já terá topado que António Costa a tenciona desencostar; ora como ela, além de boa entendedora, também é boa a fazer-se entender, apressou-se a dizer o que disse para que entendêssemos que não foi António Costa a desencostá-la, foi ela que se desencostou.

Dizem ainda as más línguas que, se ela vem arrostando com os sacrifícios que a “profissão” comporta, não é pelos lindos olhos da pasta ministerial, mas por mor de outra pasta, a de metal. Mas eu ponho as mãos no lume pela sua sinceridade. Notem que ela tem sido ministra não só com prejuízos para si própria, mas com graves repercussões para os seus familiares. Não deixa de causar dó a carência afectiva dos seus netinhos por falta de comparência da vovó com os seus carinhos.  

No que toca à tal “remodelação” que Van Dunem diz que esteve “combinada” e que António Costa sempre negou, é evidente a galga por parte de um dos dois. Quanto a mim, não tenho quaisquer dúvidas de que tal patranha pertence a António Costa; a patranha é nele congénita, é o seu idioelecto, a sua marca de água.

Termino augurando à iminente ex-ministra Van Dunem uma aposentação “posta em sossego” e na afectuosa envolvência dos seus netinhos. Bem a merece, porque governantas como ela não há muitas. Reparem que, conhecendo por experiência própria quão espinhoso é o desempenho de certos lugares, fez os possíveis e os impossíveis para evitar que a Dr. Ana Carla Almeida fosse sujeita a tais suplícios, opondo-se a que preenchesse o lugar que lhe estava destinado no Conselho Europeu, lugar que teve de ser ocupado, com menos sorte, pelo Dr. José Guerra. São os caprichos do destino: males que vêm por bem e bens que vêm por mal.

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*Utilizo a forma feminina da palavra, obedecendo aos conceitos politicamente mais correctos sobre os géneros, e seguindo o exemplo pioneiro de Dilma Rousseff, que se autochamava “Presidenta” do Brasil. Não confundir com governanta doméstica, sem embargo da domesticidade que Van Dunem revela nas suas palavras a seguir transcritas.

 

 

 

 

 

Arcades Ambo

  Rapazola petulante e tão levado da breca que pô-lo a governante não lembraria ao careca.   Lembrou, contudo, ao Monhé, per...