sábado, 31 de dezembro de 2022

QUEM É A “VELHA”?



Vou apresentar-lhes, num breve flash, um livro recentemente publicado, de que sou autor, que tem por título SERRAR A VELHA, e por sub-título Por Detrás dos Montes.

Os trasmontanos, na sua maioria, sabem o significado da expressão “serrar a velha”, porque é o nome duma tradição carnavalesca das suas terras; mas para quem não é nordestino, o sentido da expressão não é óbvio e carece de esclarecimento.

Trás-os-Montes, como diz o nome, é uma região montanhosa, formada por cabeços, colinas, outeiros; e os seus habitantes vêem essas elevações sob duas vertentes principais: uma a que chamam soalheiro; outra, a oposta, que designam por avessedo. Soalheiro é a vertente voltada a sul, mais exposta ao sol, com temperaturas mais propícias às culturas e às árvores de fruto; o avessedo, que algumas terras alteram para avesseiro, é o lado contrário, voltado a norte, mais frio e húmido e onde a neve e a geada levam mais tempo a derreter.

Parece que a orografia moldou o carácter, a maneira de ser dos trasmontanos, cuja idiossincrasia reflecte essa realidade bifronte. A trasmontanidade tem assim o seu lado solar e o seu lado sombrio. Do primeiro fala-se constantemente, quando se identifica Trás-os-Montes com o “Reino Maravilhoso”, quando se proclama que para lá do Marão mandam os que lá estão, quando se pinta o retrato robot do transmontano:  rijo e firme como as rochas que o viram nascer, com fibra moral que pode quebrar mas não verga. Isto no que respeita ao lado soalheiro da sua psique. Mas há o outro lado, o avessedo, da inveja, da maledicência, do interesseirismo, da mesquinhez, da doblez, da fanfarronice. Disso não se fala nem lhe fazem referência os transmontanófilos, nem os etnólogos quando abordam a trasmontanidade. Só em certas ocasiões, como no Carnaval, é possível soltar a língua e escalpelizar os podres, as vilezas, as chico-espertices. É para isso que serve a tradição de “Serrar A Velha”. Numa noite combinada, um grupo de malta sobe ao ponto mais elevado da povoação e aí, em altas vozes e usando um embude como altifalante, faz um relato do que ao longo do no aconteceu na aldeia, do que deu nas vistas, mais picante ou mais vergonhoso, e tudo isso é recitado em linguagem desbragada e em versos chocarreiros, com menção dos nomes dos protagonistas visados. Tudo é proclamado aos quatro ventos.

É isso que se chama “serrar a velha”. A “velha” representa essas malignidades, essas escabrosidades. É uma bruxa repulsiva, uma entidade maléfica que apetece esconjurar, serrar e cortar aos pedaços, tal como apetetece fazer a certas encarnações demoníacas, como Putin, por exemplo.

Dando continuidade a essa tradição, e à boleia da mesma, é que escrevi este livro, para “serrar” certos caramonicos, que usam o nome de trasmontanos mas para desonra dos mesmos. Se quiserem saber quem são, leiam o livro.   

 

Ligação; Editora Poesia Impossível

Arcades Ambo

  Rapazola petulante e tão levado da breca que pô-lo a governante não lembraria ao careca.   Lembrou, contudo, ao Monhé, per...