I
“Gajo” é um termo muito
usado
no falar coloquial,
quer dizer tipo, fulano,
e ninguém o leva a mal.
Mas um juiz bragançano
diz que o vocábulo é porno,
porque lá na sua zona
é sinónimo de corno.
E a uma colega juíza
que a seu respeito o usou
ganhou-lhe tal ojeriza,
que nunca lhe perdoou.
Foi aí que teve início
a guerra longa e cruenta
entre o juiz comichoso
e a magistrada minhota
que é das de pêlo na venta.
Guerra que até já subiu
ao Supremo Tribunal
para lhe pôr um final
e onde se fez a barrela
de um monte de roupa suja,
tanto dele como dela.
Mas eu iria jurar
que ainda não é desta
que a rixa vai terminar.
II
Em nenhum vocabulário.
geral ou da região,
se regista o termo “gajo”
com sentido de cabrão.
É, pois, de supor que apenas
na aldeia de Parada,
terra natal do juiz,
tal palavra seja usada
com semelhante cariz.
Mas ninguém é obrigado
a saber o dialecto
das berças do magistrado.
Todavia é dele o mérito
de ter chamado a atenção
para o que há de mais típico
no seu amado torrão.
E se Podence é famosa
por ser terra dos Caretos
na altura dos Entrudos,
por obra do Meritíssimo
Parada é terra dos “gajos”,
como quem diz, e salvo seja,
o alfobre dos cornudos.
Vai ser aldeia folclórica
e com atractivos únicos
que vão dar muito nas vistas
e que vão constituir
chamariz para os turistas.
Parada não vai parar
e por terras de Bragança
vai ser a aldeia mais guapa,
e jamais esquecerá
o juiz que a pôs no mapa.
III
Com esta guerra bufona
entre o juiz Alecrim
e a juíza Manjerona,
ficamos elucidados
de como a nossa Justiça
se entretém consigo mesma
e, mais lenta do que a
lesma,
não tem tempo para julgar
os Sócrates, os Salgados,
e outros abotoados
com nossas magras poupanças,
que passeiam, regalados,
por Franças e Araganças.
Termino com chave de oiro,
transcrevendo do jornal (*)
o que um dos litigantes
diz do outro, tal e qual:
“Passou por mim, encostou
a [sua] cabeça à minha
e disse-me: vou-te
foder”.
Faça o leitor comentários,
porque eu não os sei fazer.
(*) cf. “Público”
de 20 de Fevereiro de 2022. Quem quiser conhecer esta guerra com mais pormenor
pode consultar as reportagens do mesmo jornal dos dias 22 de Fevereiro, 1 e 31
de Março, e 5 de Abril de 2022.