quarta-feira, 20 de abril de 2022

Passarinhos e Flores Silvestres


Campesino irredutível, nado e criado em berças transmontanas, mas por força da minha sina a residir em Lisboa, não sou capaz de passar longos períodos na capital sem ir desintoxicar-me dos miasmas citadinos aos ares da terra onde nasci. Confesso que ultimamente cada vez que lá fui voltei mais desencantado. Aquilo já não é o que era. As coisas que mais me prendiam, que me eram mais familiares, como os passarinhos e as flores silvestres, estão em vias de extinção. As andorinhas já são em número reduzido; os chascos, as carriças e os trigueirões já são difíceis de avistar e já não nos deleitam com os seus trinados; o rosmaninho, a cheirosinha (vulgo tomilho), o alecrim, tão abundantes, no tempo da minha infância, são hoje raridades.

Estava eu melancolicamente a interrogar-me sobre qual poderia ser a causa de tais fenómenos: pesticidas, alterações climáticas? E eis que o choque foi tremendo: a causa tenho sido eu próprio. Tal revelação chegou-me via Carmo Afonso, a colunista da última página do jornal PÚBLICO:

por cada vez que alguém compara o BE e o PCP à extrema-direita morre um passarinho silvestre, seca uma flor campestre. Ao ritmo a que vamos não sobrarão nenhuns nem nenhumas (Público de 8-4-22).

Desgraçadamente, eu tenho feito muitas vezes essas comparações. Para meu eterno remorso. Eu pecador me confesso. Jamais voltarei à minha aldeia para não me deparar com os estragos que lá provoquei. Mea culpa, mea culpa, mea culpa.  

 

                                                                                              

 

 

 

                                                                                              

 

 

 

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