Campesino irredutível, nado e
criado em berças transmontanas, mas por força da minha sina a residir em
Lisboa, não sou capaz de passar longos períodos na capital sem ir
desintoxicar-me dos miasmas citadinos aos ares da terra onde nasci. Confesso
que ultimamente cada vez que lá fui voltei mais desencantado. Aquilo já não é o
que era. As coisas que mais me prendiam, que me eram mais familiares, como os
passarinhos e as flores silvestres, estão em vias de extinção. As andorinhas já
são em número reduzido; os chascos, as carriças e os trigueirões já são difíceis
de avistar e já não nos deleitam com os seus trinados; o rosmaninho, a cheirosinha
(vulgo tomilho), o alecrim, tão abundantes, no tempo da minha infância, são
hoje raridades.
Estava eu melancolicamente a interrogar-me
sobre qual poderia ser a causa de tais fenómenos: pesticidas, alterações
climáticas? E eis que o choque foi tremendo: a causa tenho sido eu próprio. Tal
revelação chegou-me via Carmo Afonso, a colunista da última página do jornal PÚBLICO:
“por cada vez que alguém
compara o BE e o PCP à extrema-direita morre um passarinho silvestre, seca uma
flor campestre. Ao ritmo a que vamos não sobrarão nenhuns nem nenhumas
(Público de 8-4-22).
Desgraçadamente, eu tenho
feito muitas vezes essas comparações. Para meu eterno remorso. Eu pecador me confesso.
Jamais voltarei à minha aldeia para não me deparar com os estragos que lá
provoquei. Mea culpa, mea culpa, mea culpa.
Sem comentários:
Enviar um comentário