A
variante mais recente do coronavírus, baptizada ómicron, ademais de agravar
a pandemia, está a ser muito infecciosa, linguisticamente falando. Como é
sabido, ómicron é o nome da vogal “o” do alfabeto grego, e significa
“pequeno”(mícron). A mesma vogal tem ainda outro nome, ómega, ou seja, “grande”(mega).
Estes qualificativos não têm aqui o mesmo significado que vulgarmente lhes
damos de “minúsculo” e “maiúsculo”. Mais adequado seria dizermos “o” breve e
“o” longo. A língua grega antiga era mais musical do que as línguas modernas e,
tal como na música há notas com tempos diferentes de duração, o mesmo
acontecia, na pátria de Homero, com a pronúncia das vogais. A vogal “o”,
conforme os casos, podia ter um tempo curto de pronúncia ou ter uma duração sensivelmente
o dobro da primeira; nesse caso era representada graficamente por dois
ómicrons acoplados (ω).
Tanto ómicron como ómega
são palavras esdrúxulas, com acento tónico e gráfico na primeira sílaba da
esquerda. É nessa sílaba que se deve
carregar foneticamente e não na última. E assim como não dizemos “omegá”,
também é erróneo dizer “omicrôn”. Mas a literacia dos comunicadores da nossa
praça, com particular realce para os da televisão e da rádio, anda muito por
baixo, é muito “micrónica”. Com o maior desplante agridem-nos constantemente os
ouvidos com “omicrôns” e outras necedades que a falta de espaço me impede de
elencar. Nem mesmo quando nos ecrâs das televisões a palavra aparece
correctamente escrita, com acento gráfico na sílaba tónica, eles evitam a
calinada.
De tantos tratos de polé que recebe
de locutores, pivôs, comentadores, especialistas, virologistas e até, amiúde, das
autoridades de saúde, a língua portuguesa já deu entrada nos cuidados
intensivos. Foi difícil engendrar a vacina contra o vírus. Mais árduo será
descobrir o antídoto eficaz contra o morbo asnal que atinge aqueles sandeus!
Mas eu ainda não perdi a esperança; haja Deus.
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