O poeta
Manuel Alegre (M. A.) escreveu neste jornal, em 18 do corrente, um artigo com o
título “Voto PS, não voto PAN” em que perora sobre as suas preferências
eleitorais, explicitando que não vota PAN para não votar “contra o que gosto
de fazer, como caçar e pescar” e ainda para impedir “que dois ou três
deputados acabem com a pecuária, a caça e a pesca desportiva e outros
seculares costumes e tradições do povo português.” (sublinhado meu).
M.A. ,como
muita gente, não distingue entre tradições e rotinas ou costumeiras. Se uma
usança qualquer, só porque é praticada há muito tempo, tivesse direito ao
estatuto de tradição, então pela lógica do quanto mais antigo mais tradicional,
a mais antiga profissão do mundo, o meretrício, estaria entre as tradições mais
veneráveis, e entre as tradições contaríamos a escravatura, o direito de
pernada, a pena de morte, as touradas, as praxes académicas, etc., etc.
Sem
embargo de muito apreciar a poesia de M.A. e conservar no ouvido alguns dos
seus versos, mormente o seu grito contra a ditadura salazarenta – “há sempre
alguém que diz não ”-, confesso que, por vezes e por alguns dos seus tiques e
assomos, se me insinuou a suspeita de que no genoma de M.A. era capaz de existir
algum gene marialvista. Agora essa suspeita virou certeza: M.A. diz não a certas
ditaduras e sim a outras, vide, à ditadura antiecologista, à ditadura anticlimática,
às ditaduras em que os animais “racionais” tiram prazer em torturar os outros.
Eu também
não voto PAN, mas isso não me impede de abraçar algumas causas daquele partido
que representam um avanço na caminhada humana da barbárie para a civilização.
M. A. Não está pelos ajustes. Pois fique-se lá com as suas excursões
cinegéticas e com as suas liberdades poéticas. Estamos conversados.
(*) Enviado para a secção “Cartas ao Director”
do “Público” e não publicada.
Sem comentários:
Enviar um comentário