quinta-feira, 1 de abril de 2021

MADAMA DE RAÇA

   [Aos moradores da freguesia da Ameixoeira (Lisboa) 

que têm defendido os animais abandonados]

 

 

 

Apareceu aqui ao abandono,

era um cachorro meigo o “Amarelinho”;

e enquanto procurávamos um dono,

dávamos-lhe de comer e de carinho.

 

Ele já nos conhecia;

vinha, abanando a cauda, ter connosco,

lambia-nos as mãos, agradecia.

 

Por perto um dia passa

a mais fina madama cá da praça,

levando pela trela

a sua cadela de raça.

 

A bicha, em pleno cio,

lançou o seu olhinho,

num claro desafio

ao nosso “Amarelinho”.

 

Não tolera a madama

que um humilde rafeiro

tenha acorrido ao cheiro

da lulu topo-de-gama.

 

E inchada em seu orgulho,

a fina flor do entulho,

sem mais contemplação,

chama o esquadrão da morte

da Câmara Municipal

para abater o cão.

 

Foi assim por desgraça

que ficou a saber-se em toda a zona,

p’la cadela de raça,

qual a raça da dona;

 

E que na lotação

dos nossos animais

temos um cão a menos

e uma madama a mais.

 

                                                    In : Flávio Vara, A BEM SOADA GENTE – Roma Ed, 2007.

 

 

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