[Aos moradores da freguesia da Ameixoeira (Lisboa)
que têm defendido os animais abandonados]
Apareceu aqui ao abandono,
era um cachorro meigo o “Amarelinho”;
e enquanto procurávamos um dono,
dávamos-lhe de comer e de carinho.
Ele já nos conhecia;
vinha, abanando a cauda, ter connosco,
lambia-nos as mãos, agradecia.
Por perto um dia passa
a mais fina madama cá da praça,
levando pela trela
a sua cadela de raça.
A bicha, em pleno cio,
lançou o seu olhinho,
num claro desafio
ao nosso “Amarelinho”.
Não tolera a madama
que um humilde rafeiro
tenha acorrido ao cheiro
da lulu topo-de-gama.
E inchada em seu orgulho,
a fina flor do entulho,
sem mais contemplação,
chama o esquadrão da morte
da Câmara Municipal
para abater o cão.
Foi assim por desgraça
que ficou a saber-se em toda a zona,
p’la cadela de raça,
qual a raça da dona;
E que na lotação
dos nossos animais
temos um cão a menos
e uma madama a mais.
In : Flávio Vara, A BEM SOADA GENTE – Roma Ed,
2007.
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