terça-feira, 22 de dezembro de 2020

E os nossos bispos e cardeais?

A população do nosso país é constituída na maioria por católicos, numa proporção que anda pelos oitenta por cento, segundo as estatísticas. Consequentemente é presumível que o bando de algozes que trataram e mataram o imigrante ucraniano Ihor Homenyuk e tentaram ocultar a sua tenebrosa façanha, era, na sua maioria, composto por baptizados e, quiçá, alguns até fossem à missa.

Os católicos dizem-se cristãos e uma das mais valiosas heranças da cultura cristã, e tradição já herdada dos antigos tempos bíblicos, é o acolhimento fraterno aos estrangeiros, aos migrantes, aos refugiados, aos peregrinos. A hospitalidade é para o cristão um dever sagrado; dar pousada a um expatriado é como uma visita de Deus a nossa casa.

O crime inominável perpetrado no SEF é um golpe cravado no âmago da mensagem evangélica, um buraco negro na mundividência cristã. Amarfanha-nos, interpela-nos. O Papa Francisco foi a Lampedusa testemunhar a sua vergonha pela forma como a Europa, que se reclama da "civilização cristã", trata os emigrantes e na sua recente encíclica Fratelli Tutti dedica largo espaço ao assunto. E entre nós onde param os hierarcas da igreja? Eu esperava que se manifestassem para me sentir mais acompanhado, mas até agora, como em muitas ocasiões, só vejo canes muti non volentes latrare. Este crime não os concerne? É para não se imiscuírem na política? Mas a política impede alguém de exprimir os seus sentimentos, de se condoer, de se exasperar, de chorar?

Ligações: Público carta ao director (28 Dez. 2020); Outras cartas ao Director do Público de Fávio Vara.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Arcades Ambo

  Rapazola petulante e tão levado da breca que pô-lo a governante não lembraria ao careca.   Lembrou, contudo, ao Monhé, per...